Monday, April 26, 2010

tá escrito e ponto.

escrever é dar brinquedo aos dedos

e ao mesmo tempo fazer, sem parar

cócegas na maior parte do cérebro


é brincar de deus com seu servo:

o papel que não resiste, tudo topa

ora pro bem, bem mais pro mal


é humilhante se se tem literatura

é libertário se se sente agoniado

é perigoso se se está apaixonado


escrever é preservar o tempo

escrever é gastar o tempo

escrever é viver

o não viver

do tempo

.

golpe baixo

às vezes prefiro ficar surdo

a privar o caro estômago

da sensação. deixa-me curvo.


o ilustre mais um par de entranha

vibra no mesmo volume.

e ele grita! e exclama!


quando tocam clarke nem se fala

pastorious, sizão, ray brown

ou algum do nível que os valha


peco ao preferir a surdez

a não desmiolar os vizinhos

pra sentir o contra-baixo na tez

o que eu passava enquanto o tempo passava

daqui não vou falar tudo que disse nesse tempo calado.

tão útil seria quanto lamentar o caminho não percorrido enquanto andava.

não vou culpar tudo aquilo ou a quem não passaria de uma desculpa. ou duas.

tampouco justificar os excessos a que não me furtei só para esvaziar. . ..me.

mas vivi. e bebi. e sonhei. e trepei. e caí.

e comi. e saí. e ralei. distraí, desisti.

e cantei. e chorei. e não sei? me perdi.

e voltei. e amei. eu senti. existi.

e pirei. e fervi. e coei. me servi.

e ganhei. não rezei. abracei. resolvi.


e logo em seguida fugiu, nas costas de uma libélula zarolha, dentro de dois embrulhos de papel pardo, aquilo que era simplesmente tudo isso.