Sunday, June 26, 2005

porradas na score machine

outro dia vinha eu da avenida da liberdade para casa quando vi um garoto dando pancadas na cabina telefonica a troco de uns trocos, acumulados ali no decorrer do dia pelo investimento de alguns no desfrute de uma conversa à distância. uns que, em sua maioria, escuso sempre um ou outro malandro, gastava moeda ganha em trabalho honesto e exercia seu direito conquistado. a única divergência em minha comparação entre o testemunho de uns dias atrás e o jogo que acabara a pouco entre méxico e argentina é o fato de os que telefonaram não terem sido lesados pelas pancadas do meliante, visto que receberam o serviço pelo qual pagaram. já os chicanos sentiram à carne os incessantes golpes de cabeludos que apeteciam mais a uma gangue que a um clube de futebol. é certo que saio plenamente satisfeito com o resultado, visto que torcia contra a vitória dos carcahermanos (naturalmente), mas também por uma oportunidade de revanche pelo último confronto (apesar de não terem sido bem as pancadas dos pampas o déficit do nosso futebol à época). apenas gostaria de conhecer explicação melhor para a derrota, após prorrogação e pênaltis, de um time que se destacou pela raça ofensiva durante uma partida que lutou pelo gol e para ficar de pé, mas só me pinta à mente que os safados deflagaram também algumas pancadelas ao placar.

p.s.: e que na final o brasil valha-se de algo mais que as caneleiras.

Saturday, June 25, 2005

solo

went away last night
tryin´ find some me
wasn´t i surprise
no one more i see
lot of empty steps
lot of peopleless
no more drink on glass
i got there nobody else
i know there´re eyes on me
feel the smell she used to be
no surprise when i agree
no one here excepting me

looking for is now my task
but i got there nobody else

Friday, June 24, 2005

que a chuva me leve

pedras a cair convidam quem passa a agarrá-las. os seguros de si simplesmente fecham os guarda-blocos e entram em casa, indiferentes à natureza do evento. crianças correm alegres a ver quem intercepta mais gotas antes que cheguem às grotas. espirituosos amarram-se àquelas mais astutas e passam logo a ser levados. cada uma com sua vontade e trajetória própria dirige seu amo que julga caminhar à sua vontade. já dentro de casa, os que entraram como todos os dias, à mesma hora e maneira, espiam lá fora com ar desaprovador. onde já se viu. e segue para a mesma poltrona, veste as mesmas chinelas, aperta o mesmo botão e maldiz as mesmas coisas passada a última pedra que colidiu nas suas idéias. por um brevíssimo espaço de tempo se recorda das novidades que lhe despertara. mas a vida é assim, decide-se afinal. e desde então não sai de casa sem seu guarda-blocos que, como o guarda-sol, contradiz a etimologia e apenas o repele.

Thursday, June 23, 2005

achei-te em portugal

achei


nas cerejas da estação teus olhos como grãos
no areal deste verão tua pele em minhas mãos
e devorei teus olhos enterrado no teu corpo

no tejo teus lábios a refletir a boca do céu
em plena madrugada teus cabelos ao léo
e beijei-te a nado e voei no teu cangote

nas águas livres teus brincos eram arcos
teu umbigo rodava nos mais calientes caldos
corri ao teu ouvido e queimei a língua no teu ventre

nos trilhos do comboio, linhas do teu perfil
na relva dos jardins, tua penugem mais febril
percorri teus limites ao princípio da estação final

estufas preservam as cores de tua maquilagem
pontes pulsam teu sangue de uma a outra margem
e banhei-me nas veias de tuas pálpebras tingidas

as quintas reservam e apuram teu doce fel
espelhos d´água são de lágrimas teu véu
e chorei bêbado de saudade à beira de teu colo

na doçura de belém, tuas carícias bem além
à costa do atlântico teu lombo faz tão bem
debrucei em dorso esplêndido e senti tuas mãos em mim

teus seios embriagam-me em sete colinas
perco-me procurando-te em todas as esquinas
mas nunca vejo-te nas muitas das meninas

achei-te em tudo daqui
achei-me perdido por ti

poema de angola

bebo o tanto que ele trabalha
ele cozinha o tanto qu´eu bebo
nossa diferença não aí para
com seu breu e meu vermelho

eu vago em palavras perdidas
enquanto discorre suas teorias
opostos cruzados de duas vidas
doces vinhos e comidas ardidas

chega-me curioso, o que fazia?
arrisco letras sem tal maestria
escreve um livro, trouxe-me um
disse como coelho não há nenhum

Wednesday, June 22, 2005

tom

dugudéum....dugudéum... implora a guitarra do rei bebê....pelo menos um que não fez carreira pro filho cheirar....aliás... o cheiro aqui, à vinagre, continua à espreita.... quando menos se espera, ao dobrar uma esquina, ao passar debaixo da janela da vizinha.... engraçado isso, se não fosse balsâmico... o telefone da sala toca... se for para mim há de tremer o telemóvel... aguardo o tom......em vão... o tom que ainda não captei, ou se pintou abafei pela seleção natural que custa a me deixar.... preciso..... como o relógio que custa a parar, insensível ao sol que teima não entardecer.... será preguiça ou covardia? que ponto da mala esconde o diapasão? careço afinação.....qual será o tom?

viste?

as negras corizes a lavar de seres o bico das pombas?
viste as rugas na curva do esgueio de turvas figuras?
a tristeza sem gosto e desmotivada da maioria?
a desavença com o sol e o desgosto pela chuva?
atitudes que reprovam a vida, ensalobram o dia.
viste?
a idade que traz a menos sábias das descrenças?
abrir o portão que os tranca a negros pensamentos, viste?
anjos corados em vez de musculosos armados?
ou quiçá belas musas em contraste ao musgo pisado?
glórias de agora a honrar o passado, viste?
viste fenda a transpassar réstia de luz?

Monday, June 20, 2005

deglutindo o bemol

vou-me embora agora pra longe, em visita ao passado à vista de flashbacks do amanhã... solitude na escuta de um mundo mudo, cujo vácuo suprime a voz e força o bemol a resumir-se à deglutinação amarga como um lastro preso entre a língua e o esôfago, indeciso, surdo, retido na garganta... no sol a pico fervo em caixa hermética... nos meandros da madrugada estou rodeado pelo nada, vendo ao longe cumes de areia que custam a queimar-me as retinas pelas longínquas coordenadas que nos separam e enfraquecem o reflexo da lua eventual... porém, a custo, rompe-se a membrana quando, à vontade, me insinuo.