Saturday, March 21, 2009

ler é algo desestimulante...

...pra quem escreve.

e olha que eu escrevo pelo simples tesão de escrever, sem a mínima expectativa que alguém leia, salvas as exceções e com todo respeito a você, claro.

também acho que deve haver pessoas que compartilhem desse meu sentimento: alguém já disse, e muito melhor do que você poderia pensar em fazer, sobre coisa parecida com o que você escreveria.

isso é um lado. o outro é ler coisas das mais interessantes e geniais de um woody allen ou tião carreiro e pardinho, como podem atestar abaixo.


O mineiro e o italiano viviam as barras
Dos tribunais em uma demanda de terra
Que não deixava os dois em paz
Só de pensar na derrota o pobre caboclo
Não dormia mais
O italiano roncava nem que eu gaste alguns capitais
Quero ver esse mineiro voltar de a pe pra minas gerais
Voltar de a pe pro mineiro seria feio pros seus parentes
Apelou para o advogado fale pro juiz pra ter dó da gente
Diga que nós somos pobres que meus filhinhos vivem doentes
Um palmo de terra a mais para o italiano é indiferente
Se o juiz me ajudar a ganhar lhe dou uma leitoa de presente
Retrucou o advogado o senhor não sabe o que esta falando
Não caia nessa besteira se não nós vamos entrar pro cano
Esse juiz é uma fera, caboclo serio e de tutano
Paulista da velha guarda família de 400 anos
Mandar leitoa para ele é dar a vitória pro italiano
Porem chegou o grande dia que o tribunal deu o veredicto
Mineiro ganhou a demanda, o advogado achou esquisito
Mineiro disse ao doutor eu fiz conforme lhe havia dito
Respondeu o advogado que o juiz vendeu e eu não acredito
Jogo meu diploma fora se nesse angu não tiver mosquito
De fato, falou o mineiro, nem mesmo eu tô acreditando
Ver meus filhinhos de a pé meu coração vivia sangrando
Peguei uma leitoa gorda foi Deus do céu que me deu esse plano
Numa cidade vizinha para o juiz eu fui despachando
Só não mandei no meu nome
Mandei no nome do italiano



(quase chorei e quase chorei de rir ouvindo o causo pelos acordes de viola, piano e voz do "conversa ribeira"). maravilhoso.

Monday, March 16, 2009

quem lê essa revista?















pode ser o cara que tá louco pelo ronaldo, puto com os preços do ingresso mas tem o dom de ir de são carlos pro pacaembu ver zero a zero sem o impesável astro.

ou pode ainda ser o cara que tá louco com o ronaldo, puto com qualquer programa esportivo na televisão e grande parte da seção do jornal. aqui entre nós, esse último é evidente manifestação de dor de cotovelo. mas não é esse o assunto.

quem sabe seja o brother que saiu da escola, pegou a revista no sofá da sala e ali mesmo se jogou pra ler, enquanto rola um deep purple no ipod. sua irmã deixou ali quando chegou de manhã, como concluiu pelos flocos de cereal que foram pra sua cara logo no editorial.

bem capaz ser também o doutor flávio. ele tem todas as edições na sua sala de espera, evidentemente uma mais surrada que a outra.

dona silvia e maria joana, a nadadora master do clube da cidade, compartilham suas fofocas, novidades e besteiras como essa no yoga, de manhã.

pode ser o povo da facul que fica comentando no boteco sobre a periodicidade. nunca se sabe quando vai sair a próxima. e, dependendo do curso, pode ser quem fica se perguntando se é estratégia de marketing ou a turma questionadora da eventual efemeridade da informação, a desintegração do que é verdade no simples momento em que é dito ou escrito, para então perder seu valor.

certeza de que pode ser o sêo alberto, que lê tudo (até coisas menos públicas do que revistas e jornais) minutos depois de chegarem à portaria.

e eu tenho que pensar que pode ser até a madre helena, que desprega folha por folha pra forrar a gaiola do periquito.

ou o johnny, que leva pra academia para disfarçar seu cabeludo, mas real interesse visual.

quem sabe a dona olga, apreciadora de qualquer coisa que a vista lhe pesque, durante o cigarrim no cafezim da esquina da escola.

pode ser o mário, a valéria, o francisco, a fran, o chico, a ana maria e a ana carolina (não, não as gêmeas), o roberto e o beto, a vanessa, a van e a nêssa, o virgílio, o marco aurélio, a juliana, a julia, marina e mariana, e maria, a gabriela, bi e gabi, a marcela, o rodrigo, leandro, leonel e leonardo, fábio, mateus, o estevão, o guto, a sabrina e a carla, a rebeca, o carlito ou a vera.

pode ser o tio fred que matou o tadim do mosquito que subia no azulejo (tadim porque são aqueles inofensivos, de banheiro, saca?).

pode ser o zé matando tempo na banheira, a regina na fila do banco, a solange no trabalho, a zefa no serviço, o henrique na varanda, o washignton no telhado, o lau no intervalo, o ruy no supermercado, o lucas na lanchonete, a laura no bumba e o saulo no trem.

pode ser o igor, pela primeira vez, ou o rica, por curiosidade. ou a débora, assídua, ou estela, de ocasião. o juca, por falta do que fazer, ou então a joyce, por aparecer.

o laerte, quando esteve aqui. a elizete, que ganhou de presente porque é amiga do kiko, e disse poder mexer uns pauzinhos na mídia, gerar um auê, saca? ou a tânia, que picou as letras pra carta de sequestro, ou ainda o rômulo, que cortou o miolo pra esconder o jererê. o miltom só porque é revisor e pago pra isso. e pode ser a mariângela, o augusto, o douglas, o marcos, a lucila, o felipe, o ahmed, o rubens, a renata, o guilherme, a sofia e cada um dos anunciantes.



pode ser você, até. aliás, isso é bem provável. poxa, finalmente. não podia chegar aqui sem começar por um humilde:

licença. prazer. daniel.





esboço do meu primeiro texto pra revista circuladô, de são carlos.
ilustração....daya gibele

Sunday, March 01, 2009

vida velada

nasce que nem benjamin button

alta e de cabelo branco como um mago

e vai, ou melhor, vem do fim pro meio

da vida, diminuindo e esvaindo-se

consumindo-se, desfazendo-se

incinera a própria existência

ardendo viva, na paciência

num exercício vital de penitência

existindo para sumir em palmas

em preces, em trechos de hora

dias, meses ou, (rio) vidas.


e quando a última luz se for

terá-se ido tudo aquilo que

o olho do fogo registrou

enquanto havia

pavio.