Wednesday, August 31, 2005

fugi pelo olho da katrina

olhei pelo buraco da fechadura e espiei a rua. fiquei do lado de dentro mas meu olho saltou. se o buraco fosse mesmo mais embaixo saía raspando no asfalto, mas peguei de cara boléia num umbigo. virei a esquina, ganhei a avenida. desalojei, enjoado do furim mal lavado e subi pelo banco do lavador de janelas. lá de cima tudo é mais embaixo. no segundo piso do teto pro térreo joguei tudo pro alto pra pregar a pupila no bico da gaivota que tava de bobeira na massa ascendente. e subimos pralém do nível do ar, eu e a alada companhia. melhor que andar sozinho ou voar rasinho. mas como não piscava sequei e caí. minha primeira queda livre de olho aberto, sem nada que pudesse evitar a visão de tudo. tudo rodava e eu nem da última birita me lembrava. há ares que vêm pra bem, o mais sensato pensar. eu via tudo. até que a teoria dos 9,8/s virou balela quando me vi na diagonal girando bem mais depressa que isso. procurei em vão a vaca tão fantástica da película. mais uma ilusão que cai por terra. só vento e pra minha irritação sujeira e terra. sem vergonha enrubresci. e foi tanto zum tanto vum até que bum. olho no olho e quando julguei lágrimas escorriam gotas salgadas. nem baixo nem de surdina. já não se ouvia jazz na velha orleans.

Thursday, August 18, 2005

embora louco, continuo uma pessoa normal.

há 30 anos

já não moro mais em casa, desde 30 anos atrás. o sol há tempos não se põe na terra e sim no mar, que não mais é um, são mais. troquei prédio de 20 por casa de 100. janelas abertas por quarto sem, deixei fatos para vesti-los por cima da minha primeira camisola. e subi na carrinha para evitar o troço e o medo de arder pelo caminho, em meio ao fumo que nubla as vistas. o laborar tardou mas não levou em vão o suor dos lençóis lavados em casa de banho. coloquei c no ato e convenci o patronato. quem sabe dessa saio mais feliz que o pato. nalgum lugar que eu nunca estive, sonhei chegar. já sufocava argola na goela a censurar, mas que por sorte não deixou a chave do gogó passar. aprendi a não gritar, mais sensato falar, quando muito sussurrar. porque quando se está sozinho ouve-se o silêncio como um crente a proclamar. o cabelo volta a cobrir as orelhas em precaução ao inverno, o tabaco ocupa-se da brecha aberta pela ausência. e passo noites em claro dizendo a baco, meu único confidente, o sonho que volta quando acordo e me apanha fora de casa, desde 30 anos atrás.

Tuesday, August 02, 2005

mala de couro forrada

minha mãe chorava e eu também, frouxo que sou... cego do futuro reservado à incertos aventureiros... virgem do estrangeiro, ignorante paspalho... porém, meu bem, carregado de caetanice na cachola, como poderia desmantelar perante o primeiro e ressonate não? ah, eu é que não... e danem-se a métrica ou a compostura... uso do chulo quando me apetece e mais me aborrece... corro, pulo dentro à mina d´água, saio e arranjo logo muito safo outro canto, noutra orquestra, serelepe tão sem breque, giro, fixe, me escapulo, saio, entro, subo e desço...tô com pulga na cueca, dentro em pouco tô careca, tomo vinho de caneca... ouço baixo, sax alto, solo sempre invoca algo, tô no palco da platéia, protagonizo uma comédia... minha cuca está ficando odara, como nunca insinuara, inda não sou um marginal, mas a mente nunca retornará ao seu tamanho original... deixa eu dançar.