fugi pelo olho da katrina
olhei pelo buraco da fechadura e espiei a rua. fiquei do lado de dentro mas meu olho saltou. se o buraco fosse mesmo mais embaixo saía raspando no asfalto, mas peguei de cara boléia num umbigo. virei a esquina, ganhei a avenida. desalojei, enjoado do furim mal lavado e subi pelo banco do lavador de janelas. lá de cima tudo é mais embaixo. no segundo piso do teto pro térreo joguei tudo pro alto pra pregar a pupila no bico da gaivota que tava de bobeira na massa ascendente. e subimos pralém do nível do ar, eu e a alada companhia. melhor que andar sozinho ou voar rasinho. mas como não piscava sequei e caí. minha primeira queda livre de olho aberto, sem nada que pudesse evitar a visão de tudo. tudo rodava e eu nem da última birita me lembrava. há ares que vêm pra bem, o mais sensato pensar. eu via tudo. até que a teoria dos 9,8/s virou balela quando me vi na diagonal girando bem mais depressa que isso. procurei em vão a vaca tão fantástica da película. mais uma ilusão que cai por terra. só vento e pra minha irritação sujeira e terra. sem vergonha enrubresci. e foi tanto zum tanto vum até que bum. olho no olho e quando julguei lágrimas escorriam gotas salgadas. nem baixo nem de surdina. já não se ouvia jazz na velha orleans.